Depois do Natal e das festas, o que fazer da vida e como aproveitar as muitas lições do ano que termina?
A expressão é de um conhecido poema de Carlos Drummond de Andrade, mas a mesma pergunta pode ser feita a José de Nazaré ou a tantos “Josés” presentes dentro de nós e em torno de nós. Depois do Natal e das festas que ocorrem neste tempo, o que fazer da vida e como aproveitar as muitas lições do ano que termina? Se o cenário do Natal é carregado de ensinamentos, pedimos, hoje, licença às outras figuras nele presentes, para contemplar, de modo especial, o homem a quem foi confiada a guarda da Sagrada Família, inspirados por palavras de fogo e simplicidade pronunciadas pelo Papa Francisco, quando começou seu ministério de Sucessor de Pedro:
“Como vive São José a sua vocação de guardião de Maria, de Jesus, da Igreja? Numa constante atenção a Deus, aberto aos Seus sinais, disponível mais ao projeto d’Ele que ao seu. Deus não deseja uma casa construída pelo homem, mas quer a fidelidade à Sua Palavra, ao Seu desígnio; e é o próprio Deus quem constrói a casa, mas de pedras vivas marcadas pelo Seu Espírito. E José é “guardião”, porque sabe ouvir a Deus, deixa-se guiar pela Sua vontade e, por isso mesmo, se mostra ainda mais sensível com as pessoas que lhe estão confiadas, sabe ler com realismo os acontecimentos, está atento àquilo que o rodeia e toma as decisões mais sensatas. Nele vemos como responder à vocação de Deus: com disponibilidade e prontidão; mas vemos também qual é o centro da vocação cristã: Cristo. Guardemos Cristo na nossa vida, para guardar os outros, para guardar a criação! Entretanto, a vocação de guardião não diz respeito apenas a nós, cristãos, mas tem uma dimensão antecedente, que é simplesmente humana e diz respeito a todos: guardar a criação inteira, a beleza da criação, como se diz no livro de Gênesis e nos mostrou São Francisco de Assis: é ter respeito por toda criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos. É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e de cada uma, especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que, muitas vezes, estão na periferia do nosso coração. É cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se reciprocamente; depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos pais. É viver com sinceridade as amizades, que são um mútuo guardar-se na intimidade, no respeito e no bem. Fundamentalmente, tudo está confiado à guarda do homem, e é uma responsabilidade que nos diz respeito a todos. Sede guardiões dos dons de Deus” (Homilia do Papa Francisco – Praça de São Pedro – Terça-feira, 19 de março de 2013, Solenidade de São José).
E agora? O que fazer do ano que está para começar?
O primeiro passo é reconhecer que o tempo e as capacidades foram dadas de presente. Deus não precisa fazer previsões, mas oferece um momento depois do outro, com calma até para nos permitir curtir, a cada dia, Suas riquezas e possibilidades para a nossa felicidade. Sabemos que se o Senhor não construir a casa, em vão trabalham os que a edificam (Cf. Sl 126,1). Para isso, o ano há de ser preenchido com escuta, fidelidade à Palavra de Deus e discernimento dos sinais que ele envia, sabedoria para colher as lições de cada acontecimento. Cada fato alegre ou triste é carregado de sentido e de apelos de Deus.
O José que está dentro de cada um de nós há de escolher, para ser feliz, a missão de guardião ou guardiã. Faz bem e realiza a existência de uma pessoa quando esta assume responsabilidades, olhando ao redor, para descobrir o bem a ser feito. O guardião toma iniciativa para praticar o bem, começa em si mesmo a mudança do mundo e não deixa qualquer pessoa ou situação sem a marca de sua presença. A sujeira da rua, o trânsito, as plantas e, mais ainda, as pessoas, são de nossa responsabilidade. Todas as oportunidades sejam aproveitadas para fazer o bem e construir um mundo melhor.
São José guardou a Sagrada Família. Uma bela proposta para o ano novo, olhando para seus exemplos e, contando com sua intercessão, trabalhar por valores que alguns consideram tradicionais no sentido negativo. Recordo-me de uma belíssima canção do Padre Zezinho: “Agora falam do desquite e do divórcio, o amor virou consórcio, compromisso de ninguém. E há tantos filhos que bem mais do que um palácio gostariam de um abraço e do carinho de seus pais. Se os pais se amassem, o divórcio não viria, chamam a isso de utopia, eu a isso chamo paz”. Volto ao Papa Francisco: “É cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos pais”. Faço um apelo a valores tradicionais, no sentido bem positivo e provocante. Trata-se de uma campanha pela família e pelo matrimônio, justamente no ano em que acontecerá um Sínodo Extraordinário dos Bispos sobre a Família e a Nova Evangelização. Redescobrir na família os valores da fidelidade, da fecundidade e da intimidade, tudo fecundado por uma vida de oração e comunhão com a Igreja.
Nossa vida é tecida por relacionamentos com as outras pessoas. Quanta gente nova entrou com tudo em nosso coração no ano que termina! Com São José aprendamos a “viver com sinceridade as amizades, que são um se guardar mutuamente na intimidade, no respeito e no bem”. No ano que vai começar, cultivar o trato de pessoa por pessoa, aprofundar as amizades verdadeiras, alegrar-se com elas. Mais dos que as listas existentes em nossos aparelhos, que constituem comunidades virtuais, trazer estes nomes para a realidade concreta, visitar, ajudar, ouvir, manifestar ternura e misericórdia. Se cada pessoa for ao encontro, pelo menos uma vez no ano, de cada um de seus contatos de lista, muito teremos feito para um mundo mais fraterno e justo. Haverá mais gente feliz!
Como um bom programa do tempo novo, que é dado por Deus, “cada qual veja bem como está construindo. De fato, ninguém pode colocar outro alicerce diferente do que já está colocado: Jesus Cristo. Se então alguém edificar sobre este alicerce com ouro, prata, pedras preciosas ou com madeira, feno, palha, a obra de cada um acabará sendo conhecida: o dia a manifestará, pois ele se revela pelo fogo, e o fogo mostrará a qualidade da obra de cada um. Aquele cuja construção resistir ganhará o prêmio; aquele cuja obra for destruída perderá o prêmio – mas ele mesmo será salvo, como que através do fogo” (1 Cor 3, 10-13).
Fonte: Internet
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