Consciência e Justiça


1. Introdução

O que se entende por justiça? E verdade? Como relacionar justiça e verdade? Tudo o que é justo é verdadeiro? Podemos ocultar a verdade? Ela pode ser refutada?

2. Conceito

Justiça - No sentido restrito, é a constante e perpétua vontade de conceder o direito a si próprio e aos outros, segundo a igualdade; no sentido moral, significa o respeito que há em cada um de dar a cada um o que é seu.

Verdade - Na acepção mais geral designa uma igualdade ou conformidade entre a inteligência (conhecimento intelectual) e o ser (adaequatio intellectus et rei), e, em sentido mais elevado, uma completa interpenetração de inteligência e ser.

3. Considerações Iniciais

A justiça faz parte da ética. Ela se relaciona com a felicidade (Aristóteles), com a utilidade (Hume), com a liberdade (Kant) e com a paz (Hobbes). Hobbes, por exemplo, disse que é justa a ordenação que garanta a paz, afastando os homens do estado de guerra de todos contra todos, em que vivem no "estado natural".

Aqui, tencionamos relacionar justiça com verdade. Este tema é motivo para discursos políticos, religiosos e espirituais. Há homens públicos que falam em verdade, em combater o mal, em ser justo nas suas ações, mas deixam muito a desejar, caindo em muitas contradições e não tendo forças para dizer a verdade diante de um júri, quando instado a fazê-lo.

O nosso propósito é refletir sobre a justiça e a verdade dentro do seu aspecto ético. Nesse caso, temos que dirigir os nossos pensamentos para uma perfeita compreensão do que seja a justiça, a verdade e tentar um relacionamento racional entre estes termos.

Quando uma pessoa é indagada sobre os valores que os seus pais lhe passaram, elas falam em ética, honestidade, justiça e verdade. Não resta dúvida que são valores essenciais. Por isso, eles devem fazer parte de nossa reflexão diária, no sentido de melhorarmos o nosso relacionamento conosco mesmos e com o nosso próximo.

4. Justiça

4.1. A Justiça em Aristóteles

Para Aristóteles, a virtude está no meio termo. Ela não deve pender para os excessos, tanto para mais como para menos. No livro V de Ética a Nicômaco, ele afirma que a justiça é o principal fundamento da ordem do mundo. Ela não está dissociada da polis, da cidade, ou da vida em sociedade. Ele diz: "Uma vez que o transgressor da lei é injusto, enquanto é justo quem se conforma à lei, é evidente que tudo aquilo que se conforma à lei é de alguma forma justo: de fato, as coisas estabelecidas pelo poder legislativo conformam-se à lei e dizemos que cada uma delas é justa" (Et. Nic., V, 1, 1129 b 11). Nesse sentido, segundo Aristóteles, a justiça é a virtude integral e perfeita: perfeita porque quem a possui pode utilizá-la não só em relação a si mesmo, mas também em relação aos outros. (Ibid., 1129 b 30) (Abbagnano, 1970).

Para Aristóteles, a justiça não é adquirida nos livros ou mesmo pelo pensamento. Ela tem que ser construída na vida prática, isto é, pela obediência às leis da pólis e pelo bom relacionamento com os cidadãos.

4.2. Justiça Humana

É o conjunto de meios administrativos organizados pelas sociedades humanas para aplicação das leis que estabeleceram, e especialmente para julgar e castigar os delitos contra elas cometidos.

A justiça humana procura refrear os atos (ilícitos) que as pessoas cometem em relação às leis estabelecidas por um determinado país. Uma pessoa comete um crime, ou seja, transgride a lei de seu país. Depois de julgada e considerada culpada, é colocada na prisão. Ali fica por 2, 3 10, 20, 40 anos ou mais. Cumpriu a pena humana. Será que está livre da justiça divina? E os culpados que arrumam bons advogados e se livram da prisão? O que acontecerá com eles? Ficarão livres da justiça divina?

4.3. Justiça Divina

Justiça divina – é o atributo de Deus segundo o qual Ele regula todas as coisas com igualdade. Assim, a justiça humana pune os crimes factuais; a justiça divina, os de essência. A justiça divina vê o ser na sua totalidade, incluindo as suas diversas encarnações. Suponha o culpado que arrumou um bom advogado e se livrou da prisão. Nada disso fica incólume ante a igualdade divina. Essa pessoa deverá refazer o seu erro. Observe o seguinte: quando uma pessoa inocente é presa, falamos de injustiça. Mas será injustiça com relação à lei de Deus? Não será uma dívida do passado não solucionada e que deve ter o seu encaminhamento nesta atual encarnação?

5. A Verdade

5.1. O Problema da Verdade

Por que a verdade é um problema? É um problema porque está sempre em construção dentro de cada um de nós. A verdade, sendo relativa, deve se aproximar da verdade absoluta. Isto demanda tempo. Não é em uma ou algumas encarnações que conseguimos nos aproximar de uma verdade mais ampla, mais abrangente. Como ela está sempre no fundo das coisas, precisamos cavar muita terra, tirar muita água do poço, para encontrá-la pura e cristalina.

5.2. Sujeito e Objeto

A verdade deve ser vista como uma relação entre o Sujeito (inteligência) e o Objeto (realidade). O Sujeito deve captar a imagem do Objeto e voltar a ele como uma crítica conceituada. Se esta crítica coincidir com a realidade (Objeto), diz-se que o Sujeito está de posse da verdade; se não coincidir, que está em erro.

Poder-se-ia colocar também:

Conhecimento é o reflexo e a reprodução do objeto em nossa mente.

Conhecimento verdadeiro é aquele que reflete corretamente a realidade na mente.

Verdade é o reflexo fiel do objeto na mente, adequação do pensamento com a coisa.

É verdadeiro todo o juízo que reflete corretamente a realidade. O que existe na realidade não pode ser verdadeiro ou errado. Simplesmente existe. Verdadeiros ou errados só podem ser nossos conhecimentos ou juízos a respeito do objeto. Em outras palavras, verdadeiro ou errado pode ser apenas o reflexo subjetivo da realidade objetiva.

5.3. Cristo e a Verdade

Cristo disse-nos que deveríamos conhecer a verdade, que ela nos libertaria. Acrescenta que Ele é o caminho, a verdade e a vida. Em seu discurso evangélico, Cristo não nos pede uma racionalização da verdade, mas uma transcendência em Deus, para ficarmos livres do erro, da mentira, do vício. A nossa libertação não será em função dos "aspectos da verdade", ou das "verdades provisórias" de que sejamos possuidores. A verdadeira liberdade fundamenta-se na submissão ao dever fielmente cumprido. O Espírito Emmanuel assim se expressa: "Quem apenas vislumbra a glória ofuscante da realidade, fala muito e age menos. Quem, todavia, lhe penetra a grandeza indefinível, age mais e fala menos".

6. Justiça e Verdade

6.1. Tudo que é justo é verdadeiro?


Em principio, tudo o que é justo deve também ser verdadeiro. Como vimos anteriormente, a principal e mais perfeita das virtudes é a justiça, porque engloba todas as demais. Acontece que o ser humano, vivendo num mundo de provas e expiações, ainda é bastante imperfeito e comete muitas injustiças, pensando que está fazendo justiça. Há, também, grande distância entre a justiça relativa, humana, aquela praticada neste Planeta e a justiça mais ampla, mais próxima do Criador, pertencente a mundos mais evoluídos. Observemos a lei do "olho por olho e dente por dente", na época de Moisés, e a lei do amor ensinada por Jesus: Jesus mandava-nos amar o nosso próximo, estendendo este amor até aos inimigos.

6.2. As aflições são justas?

Procurando a verdade dos fatos, deparamo-nos com a aflição. Diante dela, perguntamos: as aflições são justas? Dada a limitação do nosso conhecimento, passamos a achar que Deus é injusto, que Ele nos manda uma prova além de nossa força. Tudo isso é puro engano. Cada um de nós está no devido lugar, para a realização do seu progresso material e espiritual. Nada que se nos acontece, acontece por acaso. É preciso, pois, refazer o nosso juízo de valor sobre a divindade. Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Ele é onipotente, justo e bom. Então, tudo o que está nas suas leis também deve ser justo e bom.

6.3. Frases sobre a Justiça e a Verdade

Pascal disse: "Justiça e verdade são duas pontas tão finas que os nossos instrumentos são demasiadamente obtusos para nelas tocar com exatidão. Quando chegam a aproximar-se, destroem a ponta, e se apoiam em toda a volta, mais sobre o falso do que sobre o verdadeiro". Já, em Pitágoras, temos: "Se sofreres uma injustiça, consola-te, que a verdadeira desgraça é cometê-la". Sêneca acena-nos com o seguinte: "Quem decide um caso sem ouvir a outra parte não pode ser considerado justo, ainda que decida com justiça". Eduardo Girão acrescenta: "A verdade nunca é injusta; pode magoar, mas não deixa ferida". H. L. Longfellow finaliza: "O homem é injusto, mas Deus é justo, e a justiça finalmente, triunfa".

7. Conclusão

A justiça, a verdade e o bem constituem os grandes conceitos da humanidade. Enfatizando esses conceitos, estaremos diminuindo a presença da injustiça, da mentira e do mal. Assim sendo, não resta dúvida que o aperfeiçoamento do ser humano e a prosperidade da sociedade devem estar sempre embasados na justiça, na verdade e no bem.
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