A Verdade - Osho


“A verdade é. Não é preciso esforço algum de sua parte para inventá-la. A verdade tem que ser descoberta, não inventada. E o que está nos impedindo de descobri-la? Nos ensinaram muitas mentiras, montanhas de mentiras. Estas são as barreiras que continuam falsificando a verdade, que não permitem que nossos corações sejam um reflexo daquilo que ela é.
      A verdade não é uma conclusão lógica. A verdade é a existência, a realidade. Ela já está aqui – ela sempre esteve aqui. Somente a verdade existe. Então, por que não conseguimos encontrá-la? Porque desde o início da infância, nos ensinaram falsidades, pré-julgamentos, ideologias, religiões, filosofias... Tudo isto fez com que ficássemos perdidos. Como fazer para encontrá-la?
      A verdade não é uma idéia. Você não precisa ser um hindu para conhecê-la, ou um muçulmano, ou um cristão. Se você for um hindu, nunca irá conhecê-la; exatamente por ser um hindu, isto irá mantê-lo cego. O que queremos dizer quando dizemos, ‘eu sou um hindu, ou um muçulmano, ou um judeu’? Nos queremos dizer, ‘ eu já tenho idéias a respeito do que é a verdade – idéias da Bíblia, do Corão, ou do Gita, mas eu já tenho as idéias. Eu não conheço a verdade, mas já sei muito a respeito dela.’ E este ‘já sei muito a respeito’ é o único problema que tem que ser resolvido.
      Uma vez que você abandone suas idéias a respeito da verdade, você se verá face a face diante dela interna e externamente. Você se verá diante dela porque nada mais existe.
      Mas, os pais, a sociedade, o estado, a igreja e o sistema educacional, todos eles dependem de mentiras. Assim que a crianca nasce, eles começam a montar as armadilhas para lhe incutir mentiras. A criança é indefesa. Ela não consegue escapar de seus pais, ela é completamente dependente. Você pode explorar a sua dependência... E isto tem sido explorado ao longo dos séculos.
      Ninguém foi tão explorado quanto as crianças – nem o proletariado, nem as mulheres. Ninguém foi explorado tanto, tão profundamente e tão destrutivamente quando as inocentes crianças. E porque são indefesas e dependentes, elas aprendem qualquer coisa que vocês lhes ensinem. Elas têm que engolir todas as mentiras que vocês continuam empurrando para dentro delas. É uma questão de sobrevivência, pois elas não conseguem sobreviver sem vocês. É uma questão de vida ou morte! Elas têm que ser hindus, ou muçulmanas, ou jainas, ou budistas, ou comunistas. Tudo que vocês estiverem interessados em colocar em suas mentes, vocês colocarão.
      Ao invés de torná-las mais alertas, mais conscientes, mais vivas e mais reflexivas como um espelho, ao invés de torná-las mais puras, vocês as tornam cheias de idéias... Camadas e camadas de poeiras. E assim, fica impossível para elas ver aquilo que é. Elas começam a ver aquilo que não é e param de ver aquilo que é.
      Então, ser verdadeiramente religioso significa um renascimento: tornar-se novamente como uma criança e abandonar tudo o que a sociedade lhe deu.
      A religião é uma rebelião contra tudo o que lhe foi imposto, uma rebelião contra ser reduzido a um computador. Simplesmente olhe para dentro! Tudo o que você sabe, foi-lhe ensinado, não é um conhecimento seu, não é autenticamente seu. Como pode ser autêntico, se não é seu? Você não é uma testemunha dele, você é apenas uma vítima – vítima das circunstâncias.
      É apenas um acidente nascer na Índia ou na Inglaterra. É apenas um acidente nascer numa família hindu ou numa família cristã. Por causas desses acidentes, a sua natureza essencial foi perdida. Você foi forçado a perdê-la. Se você quiser resgatá-la, você terá que renascer.
      E é isto exatamente o que Jesus quer dizer quando diz a Nicodemos: ‘A não ser que nasça novamente, você não entrará no reino de Deus.’ Na verdade, ele não quer dizer que você tem que morrer, tem que cometer suicídio e depois nascer de novo. Isto não irá ajudar, pois você irá nascer novamente com alguns pais, numa certa sociedade, dentro de uma certa igreja, e de novo a mesma estupidez será feita com você.

      Por ‘renascimento’, Jesus quer dizer que agora, deliberadamente e conscientemente, você é capaz de abandonar tudo o que lhe foi ensinado.  Abandone o seu conhecimento e torne-se inocente.  E esta é a única maneira de se tornar inocente. O conhecimento é a contaminação. Ser inocente é estar num estado de não-conhecimento e, funcionar a partir deste estado, é a única maneira de conhecer a verdade.

      Medite sobre estes sutras tremendamente significantes de Goutama Buda.

Ele diz:

     Tomando erradamente o falso como sendo verdadeiro

      E o verdadeiro como sendo falso,
      Você faz vista grossa para o coração
      E se enche de desejos.

      A mente nada mais é que desejos. O coração não conhece desejos. Você ficará surpreso ao saber que todos os desejos pertencem à cabeca. O coração vive no presente, ele pulsa e bate no aqui e agora. Ele nada conhece a respeito do passado e do futuro. Ele sempre está aqui e agora.

      E eu não estou falando a respeito de uma filosofia. Eu estou simplesmente declarando um fato tão simples que você pode observá-lo dentro de si mesmo: o seu coração está batendo agora. Ele não consegue bater no passado nem no futuro. O coração conhece apenas o presente, por isto ele é completamente puro. Ele não está poluído pelas memórias do passado, pelos conhecimentos, pelas experiências passadas, por tudo que lhe foi dito e ensinado, pelas escrituras e pelas tradições. Ele nada sabe a respeito de todas estas tolices!  Ele nada sabe a respeito do futuro, do amanhã. Para ele o passado não existe mais e o futuro ainda não existe. Ele está completamente aqui. Ele é imediato.
      Mas a mente é exatamente o oposto do coração. Ela nunca está aqui e agora.  Ou ela está pensando nas belas experiências do passado ou está desejando as mesmas belas experiências no futuro. Assim ela segue pulando entre o passado e o futuro. Ela nunca pára no presente. Ela ignora completamente o presente. Para a mente, o presente não existe. Veja o ponto: o presente é a unica coisa que existe, mas para a mente o presente é a unica coisa que não existe. O passado é não-existencial, o futuro é não-existencial, mas para a mente essas são as únicas coisas existenciais.
      A cabeça é o problema... E o coração é a solução.
      A criança funciona a partir do coração. Na medida em que você começa a crescer, começa a se mover do coração para a cabeça. Quando alcança a graduação na universidade, o coração já foi esquecido completamente. Você está pendurado na cabeça. Toda a sua energia moveu-se para a cabeça.
      Agora você nada sabe a respeito da realidade. Você está cheio de lixo erudito e tolices acadêmicas. Você pode ser um Ph.D. um D.Litt. Você conhece muito, mas nada conhece! Porque o verdadeiro conhecer acontece no coração, não na cabeça. E as universidades existem para desviar a sua energia do coração para a cabeça.
      Todas as universidades no mundo, até agora, têm sido inimigas da humanidade. Toda a função delas é servir ao estado e à igreja. Elas são agentes do status quo, elas são agentes de interesses ocultos. Elas não servem a você. Elas servem aos poderosos, aos patrões, aos opressores e aos exploradores. As universidades servem a tudo o que está ao redor do poder. Elas ainda não estão a serviço da humanidade.
      Se elas estivessem verdadeiramente a serviço da humanidade, então as universidades seriam os locais para se aprender a rebelião, elas criariam revolucionários. A univerdade não criaria pessoas convencionais, conformistas. Ela criaria rebeldes, aventureiros, prontos para arriscarem suas vidas pela verdade. Isto não aconteceu ainda.
      É um fato triste que em nome da educação seja dada continuidade a alguma coisa muito feia. Por trás da fachada, algo muito criminoso continua. E o crime é este: eles desviam sua energia do coração para a cabeça, destroem sua capacidade de amar e forçam-no a aprender lógica. Para eles a lógica é mais importante que o amor, pensar é mais importante que ser sensível. Isto é colocar o carro na frente dos bois. Isto está totalmente às avessas.
      É por isto que a humanidade está em tal confusão. O que não é verdadeiro parece ser verdadeiro e o que é verdadeiro parece ser não-verdadeiro. Eles tem tido êxito em distorcer a sua visão. Os Budas têm lutado contra todos estes interesses ocultos.
         Buda diz:

                                             Tomando erradamente o falso como sendo verdadeiro

                                                     E o verdadeiro como sendo falso,
                                                     Você faz vista grossa para o coração.
                                                            E se enche de desejos.


A mente é desejo e vocês continuam se enchendo de mais e mais desejos, mais e mais ambições, buscando poder, prestígio e riqueza. E se esqueceram completamente que existe um coração batendo dentro, o qual já vive em Deus, o qual já é parte da lei maior – ais dhammo sanantano – aquilo que já é parte da inesgotável e eterna lei. Vocês já estão ligados a Deus a partir de seus corações. Seus corações são raízes no solo de Deus. Seus corações ainda são alimentados por Deus, pela verdade.
      Mas vocês não estão ali. Vocês deixaram o local vazio. Vocês vivem na cabeça. Vocês passam todos os dias em suas cabeças; nunca descem de lá. Mesmo durante a noite, enquanto dormem, vocês continuam com o barulho na cabeça... Sonhos, sonhos e mais sonhos. Durante o dia, pensamentos, e durante a noite, sonhos. Eles não são diferentes.
      O sonho é apenas a tradução do pensamento para a linguagem do sono, e vice-versa: pensar nada mais é que a tradução do sonho para a linguagem do dia. Você continua se movendo entre estas duas coisas: sonhar e pensar. Ambos são desejos. O que você pensa a não ser desejos? O que você sonha a não ser desejos?
      Buda diz que o falso parece ser verdadeiro porque você se tornou falso para a sua própria verdade, para o seu próprio coração. Volte para o seu coração e então você será capaz de reconhecer a verdade como verdade e o falso como falso. Isto é iluminação, isto é voltar para casa.

      Veja o falso como falso.

      Mas, por onde começar? Comece por ver o falso como falso. É por isto que todos os Budas parecem ser negativos, todos os Budas parecem ser destrutivos. Eles negam. Jesus nega. Ele diz repetidas vezes: ‘No passado lhes foi dito isto, mas eu digo a vocês...’ E ele muda todo o ponto de vista.
      Por exemplo, ele diz: ‘No passado foi dito que a lei era: pague com a mesma moeda. Se alguém lhe atirar um tijolo, reaja atirando-lhe uma pedra. Mas eu lhes digo, se alguém bater-lhe em uma face, ofereça a outra também. E se alguém levar-lhe o casaco, dê-lhe a camisa também. E se alguém forçá-lo a andar uma milha, ande duas.’
      Maomé é contra todas as imagens de Deus porque seu povo esteve adorando imagens por séculos. Eles tinham trezentos e sessenta e cinco deuses, um deus para cada dia do ano. A Caaba, na época de Maomé, era um dos maiores templos do mundo, dedicado a trezentos e sessenta e cinco deuses. Maomé destruiu todos aqueles ídolos. Isto parece negativo!
      Buda diz: ‘Não existe verdade nos Vedas nem nos Upanishads. Cuidado com palavras bonitas! Cuidado com especulações filosóficas! Não desperdice seu tempo com lógica. Fique em silêncio! Jogue fora os Vedas de sua cabeça; somente assim você consegue ficar em silêncio.’ Ele parece negativo, ele parece nihilista, perigoso – mas esta é a única maneira que você pode ser ajudado.
      O falso tem que ser mostrado a você como falso. Você tem que começar com isto:  neti neti – nem isto nem aquilo. O Mestre tem que dizer a você: ‘Isto é falso e aquilo é falso.’ Ele tem que continuar apontando para você tudo o que for falso, porque quando você souber tudo o que for falso, de repente uma transformação acontece em sua consciência. Quando você se tornar consciente do que é falso, começará então a ficar consciente do que é verdadeiro.
      Não se consegue ensinar o que é a verdade, mas certamente se consegue ensinar o que não é a verdade. Você foi condicionado; você pode ser descondicionado. Você foi hipnotizado – como hindu, muçulmano, cristão, jaina... A função do Mestre é desipnotizá-lo. Uma vez que você seja desipnotizado, de repente será capaz de ver a verdade. A verdade não precisa ser ensinada. (...)”
OSHO



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